Análise dos Sistemas Audiovisuais

6.5.03:::
 
As coisas e seus homens

Ao que parece, a criatura tomou o lugar do criador. A técnica prevalece sobre o homem. O que era um meio, tornou-se um fim. Toda a tecnologia e os tecnocratas cantam em coro iluminista: “A ciência salva”. Acompanhando esse processo, o governo do estado de São Paulo “enriquece” as escolas públicas com computadores, e faz disso uma bandeira a ser seguida. Como os aparelhos não trazem consigo acompanhamento pedagógico, muito menos o governo paga instrutores para o uso, os computadores permanecem desligados, entulhados numa sala. O que aparenta progresso, é engodo.

A arte não escapa da onda. A famosa Hollywood, se fosse possível, chegaria a filmar a própria tecnologia. A maioria das grandes produções cinematográficas norte-americanas é pobre em conteúdo e milionária no primor técnico. Dessa forma, o objeto técnico parece ter-se tornado um mecanismo alienante, pois obriga o espectador girar em torno dos meios, fazendo da vida uma tautologia (fim = meio = fim). Em decorrência, a percepção do mundo fica automatizada, desprovida de mudança e impassível de interpretações adversas. A criatura depôs o criador.

Os homens e suas coisas

Voltar-se contra a técnica é bobagem. Apesar da ilusão de que “agora as coisas me percebem”, quem dispara o flash é um dedo humano. O que está em questão não é a técnica em si, mas o uso dela. Um exemplo bem simples: uma chave de fenda não gira sozinha; culpar a tecnologia pela má arte, seria o mesmo que condenar uma chave de fenda pelos parafusos mal apertados. A comparação não é piada, a questão é precisamente essa.

A técnica não afeta o artista, afeta sim a arte. O artista em si não muda por conta do modo de produzir, o que fica alterado é a obra artística a que o aparato técnico dá acesso. Pintores e “cineastas de última geração” produzem arte por meio de objetos técnicos (pincel e câmera), e a obra não deve ser avaliada pela habilidade técnica dos artistas – apesar de ser tentador – mas pelo resultado final da produção, levando em conta quesitos estéticos e conceituais avessos à tecnologia.

O velho Beethoven mostrou isso muito bem: com apenas quatro notas (tã, tã, tã, TÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃ) ele entrou de sola em toda a história, fazendo-se ouvir por toda a eternidade. Quatro notas, em instrumentos já demasiadamente conhecidos entre os músicos, somente quatro notas. A técnica em si não diz respeito à má produção artística, o artista é quem o faz. Se existe o automatismo da percepção, certamente a “culpa” não é da técnica, mas dos “técnicos”.

[postado por Andr� - 5:57 da tarde]

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